Entrevista com Ralph Justino, ex-prefeito de Tiradentes

“Lei de eventos colocará Sete Lagoas na ponta da legislação brasileira”

Marcelo Sander

Referência entre os festivais cinematográficos do país, a Mostra de Cinema de Tiradentes chegou aos 21 anos ininterruptos de realização no início deste ano. O evento é um exemplo do que a cidade se tornou desde 1997, ano de sua primeira edição: de cidade colonial em um dos principais polos turísticos de Minas Gerais. Segundo o ex-prefeito de Tiradentes, Ralph Justino, naquela época a cidade possuía cerca de 15 restaurantes e 15 pousadas. Atualmente são mais de 140 pousadas registradas e aproximadamente 140 restaurantes. “Vivemos uma ampliação absurda no atendimento ao turista”, afirma Ralph, que era secretário de Cultura e Turismo quando foi criada a mostra e também é um dos idealizadores do Festival Gastronômico da cidade. Tiradentes tem hoje 7,5 mil habitantes, mas chega a dobrar de população em feriados e dias de festivais, o que acontece praticamente o ano todo, já que o calendário ganhou novos eventos nos últimos anos.

Foi preciso, então, organizar a casa. Assim, em 2011 foi criada a Lei Municipal nº 2.622, que regulamenta a realização de eventos na cidade. Foi um projeto pioneiro em parceria com o Iphan e o Ministério Público Federal. A lei é uma das principais fontes a que o Grupo Uai de Hotéis e Pousadas de Sete Lagoas e Região – em parceria com produtores locais, Câmara Municipal, Circuito das Grutas e entidades – se debruça para regulamentar o setor também em Sete Lagoas. Para apresentar o projeto e discutir aspectos da lei e o fomento ao turismo na região, foi realizado um workshop no dia 16 de outubro, no auditório da ACI Sete Lagoas, com a presença do ex-prefeito de Tiradentes. Confira a entrevista:

Por que Tiradentes viu a necessidade de se criar uma lei específica para isso?

Tiradentes se tornou polo turístico de grande importância. Devido ao seu valor histórico e cultural e ter uma topografia diferenciada, a comunidade decidiu implantar uma legislação que não impedisse as realizações de eventos, mas que colocasse uma organização. Assim, todos saem ganhando.

Como foi lidar com comentários de que a lei engessaria e tornaria mais burocrática a realização de eventos?

Vivemos em um país democrático. Críticas construtivas são bem-vindas. Mas de forma alguma engessou os eventos. Somente foram criados critérios de como utilizar melhor os espaços públicos.

Quais entidades locais foram envolvidas na criação da lei?

Participaram o Conselho Municipal de Turismo, empresários, vereadores, Prefeitura, associações de bairro, Ministério Público, Polícia Militar e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Ipham).

Quais referências foram buscadas para se formatar a lei?

Foi realizado um estudo pelo Ministério Público Federal. Um diagnóstico sobre os eventos que estavam sendo realizados em Tiradentes.

O que mudou na cidade antes e depois da lei?

Possibilitou um diálogo entre todas as partes que antes não havia de forma homogênea.

Na sua opinião, o que Sete Lagoas e região têm a ganhar com essa lei?

A implantação da lei em Sete Lagoas colocará a cidade na ponta da legislação brasileira. Essa lei permite que os setores públicos e privados se aproximem para que os eventos possam ficar mais organizados e, consequentemente, melhorar para o público. Afinal, todos querem desfrutar do turismo, desde que seja suportável para visitantes e população local.

QUEM É

Ralph Araúno Justino é natural de Belo Horizonte, tem 61 anos e estudou Arquitetura na UFMG. Abandonou o curso para ser empresário do cantor Raimundo Fagner no final dos anos 70. Depois estudou cinema em Los Angeles, voltou ao Brasil e fez alguns médias e curtas metragem, com destaque para o documentário “Carnaval – O aval da carne” que representou o Brasil no Festival de Veneza de 1983. Mudou-se para Tiradentes em 1992 para construir uma pousada e “levar uma vidinha na rede”. Porém, aceitou ser secretário de Cultura e Turismo de Tiradentes. É idealizador da Mostra de Cinema e Festival de Gastronomia da cidade. Depois, esteve à frente do mesmo cargo em Barbacena e São João del Rei. De 2013 a 2016 foi prefeito de Tiradentes.

*Publicado originalmente no jornal Sete Dias